quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Por que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado?
“Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em Sua sabedoria.
Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro.
Esquecido de seu passado ele é mais senhor de si. ”
Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas de que se não
lembra? Como pode aproveitar da experiência de vidas de que se esqueceu? Concebe-se
que as tribulações da existência lhe servissem de lição, se se recordasse do que as tenha podido ocasionar. Desde que, porém, disso não se recorda, cada existência é, para ele, como se fosse a primeira e eis que então está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com justiça de Deus?

“Em cada nova existência, o homem dispõe de mais inteligência e melhor pode
distinguir o bem do mal. Onde o seu mérito se se lembrasse de todo o passado? Quando o
Espírito volta à vida anterior (a vida espírita), diante dos olhos se lhe estende toda a sua
vida pretérita. Vê as faltas que cometeu e que deram causa ao seu sofrer, assim como de que
modo as teria evitado. Reconhece justa a situação em que se acha e busca então uma
existência capaz de reparar a que vem de transcorrer. Escolhe provas análogas às de que não
soube aproveitar, ou as lutas que considere apropriadas ao seu adiantamento e pede a
Espíritos que lhe são superiores que o ajudem na nova empresa que sobre si toma, ciente de
que o Espírito, que lhe for dado por guia nessa outra existência, se esforçará pelo levar a
reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das em que incorreu. Tendes essa
intuição no pensamento, no desejo criminoso que freqüentemente vos assalta e a que
instintivamente resistis, atribuindo, as mais das vezes, essa resistência aos princípios que
recebestes de vossos pais, quando é a voz da consciência que vos fala. Essa voz, que é a
lembrança do passado, vos adverte para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes
culpados. Em a nova existência, se sofre com coragem aquelas provas e resiste, o Espírito
se eleva e ascende na hierarquia dos Espíritos, ao voltar para o meio deles.”

Nos mundos mais elevados do que a Terra, onde os que os habitam não se
vêem premidos pelas necessidades físicas, pelas enfermidades que nos afligem, os homens compreendem que são mais felizes do que nós? Relativa é, em geral, a felicidade. Sentimola, mediante comparação com um estado menos ditoso. Visto que, em suma alguns desses mundos, se bem melhores do que o nosso, ainda não atingiram o estado de perfeição, seus habitantes devem ter motivos de desgostos, embora de gênero diverso dos nossos.
Entre nós, o rico, conquanto não sofra as angústias das necessidades materiais, como o pobre, nem por isso se acha isento de tribulações, que lhe tornam amarga a vida. Pergunto então:
Na situação em que se encontram, os habitantes desses mundos não se consideram tão infelizes quanto nós, na em que nos vemos, e não se lastimam da sorte, olvidados de existências inferiores que lhes sirvam de termos de comparação?

“Cabem aqui duas respostas distintas. Há mundos, entre os de que falas, cujos
habitantes guardam lembrança clara e exata de suas existências passadas. Esses,
compreendes, pedem e sabem apreciar a felicidade de que Deus lhes permite fruir. Outros
há, porém, cujos habitantes, achando-se, como dizes, em melhores condições do que vós na
Terra, não deixam de experimentar grandes desgostos, até desgraças. Esses não apreciam a
felicidade de que gozam, pela razão mesma de se não recordarem de um estado mais infeliz.
Entretanto, se não a apreciam como homens, apreciam-na como Espíritos.”
Podemos ter algumas revelações a respeito de nossas vidas anteriores?
“Nem sempre. Contudo, muitos sabem o que foram e o que faziam. Se se lhes
permitisse dizê-lo abertamente, extraordinárias revelações fariam sobre o passado.”
Nas existências corpóreas de natureza mais elevada do que a nossa, é mais
clara a lembrança das anteriores?

“Sim, à medida que o corpo se torna menos material, com mais exatidão o homem
se lembra do seu passado. Esta lembrança, os que habitam os mundos de ordem superior a
têm mais nítida.”
Sendo as vicissitudes da vida corporal expiação das faltas do passado e, ao
mesmo tempo, provas com vistas ao futuro, seguir-se-á que da natureza de tais vicissitudes se possa deduzir de que gênero foi a existência anterior?

“Muito amiúde é isso possível, pois que cada um é punido naquilo por onde pecou.
Entretanto, não há que tirar daí uma regra absoluta. As tendências instintivas constituem
indício mais seguro, visto que as provas por que passa o Espírito o são, tanto pelo que
respeita ao passado, quanto pelo que toca ao futuro.”

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